ADVOGADO DE VORCARO DEFENDEU DESEMBARGADORA QUE REVOGOU SUA PRISÃO
Documentos mostram vínculo profissional anterior entre Solange Salgado e integrante da defesa do empresário.
01/12/2025
Por Cleber Lourenço
A desembargadora do TRF‑1 Solange Salgado da Silva, responsável por revogar a prisão do empresário Daniel Vorcaro, já teve sua defesa conduzida no passado pelo advogado Pierpaolo Cruz Bottini — o mesmo que atualmente integra a equipe jurídica do empresário. A informação consta em documentos e registros oficiais relativos a processos anteriores envolvendo a magistrada. O caso está identificado como N.0068112-70.2011.4.01.0000/DF.
Bottini atuou como defensor de Solange em um inquérito que investigou operações de empréstimos envolvendo a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região. O caso tratava de financiamentos concedidos entre 2000 e 2009, período em que magistrados obtiveram empréstimos mesmo com dívidas pendentes junto à Fundação Habitacional do Exército.
empréstimos mesmo com dívidas pendentes junto à Fundação Habitacional do Exército.

Histórico da desembargadora
Na ocasião Solange foi denunciada pela Procuradoria Regional da República da 1ª Região por cinco crimes, entre eles gestão fraudulenta, o mesmo crime agora imputado ao banqueiro Daniel Vorcaro.
A Corte Especial do TRF‑1 rejeitou a denúncia, entendendo que não havia elementos que vinculassem a magistrada às irregularidades investigadas.
O processo disciplinar interno relacionado ao caso registrou quatro posições distintas dentro do tribunal: sete votos pela aposentadoria compulsória de Solange; três pela pena de disponibilidade; cinco votos pela pena de censura; e um voto pela pena de advertência. O Ministério Público Federal apresentou pedido de revisão ao Conselho Nacional de Justiça, alegando que a decisão do TRF‑1 contrariava as evidências dos autos e que as penalidades teriam sido desproporcionais à gravidade dos fatos. O MPF sustentou que, se houvesse votação específica para cada penalidade, teria sido alcançado o quórum qualificado de dez votos para a pena de disponibilidade. O CNJ manteve a decisão do tribunal.
Posteriormente, o MPF ofereceu denúncia contra Solange Salgado e o ex‑presidente da associação Charles Renaud, acusados de gerir fraudulentamente instituição financeira. Em 2018, diante da demora no andamento das ações, a diretoria da Ajufer ingressou como assistente de acusação em dois processos criminais relacionados aos fatos investigados. À época, o então presidente da entidade, juiz Leonardo Paupério, afirmou que, passados sete anos desde a descoberta das irregularidades, os fatos ainda não haviam sido esclarecidos de forma satisfatória e que os responsáveis permaneciam impunes.
Em fevereiro de 2023, o TRF‑1 teria absolvido Solange, mas o tribunal não divulgou o resultado do julgamento. O processo segue sob sigilo em arquivos físicos, o que dificulta a consulta envolvendo o caso.
A conexão documentada entre Solange e Bottini refere‑se exclusivamente à atuação do advogado na defesa da magistrada naquele processo, encerrado anos antes do caso envolvendo Vorcaro. Não há registro de relação entre as partes além da atuação profissional formalizada nos autos.
A decisão que beneficiou Vorcaro foi fundamentada nos elementos do processo e impôs medidas cautelares.